Não, não morri. Estou só a terminar a tese de mestrado, cuja boa parte da análise dos dados perdi quando o meu computador resolveu adoecer. Já ultrapassei a fase da negação e, lentamente, vou deixando para trás a do desespero, dando lugar a uma crescente motivação para fazer tudo de novo. Não, não morri. Mas é quase a mesma coisa.
Já vos aconteceu? Querem partilhar dores semelhantes que vos tenham afrontado? Sintam-se à vontade, façam-me sentir menos sozinha. Que isto dá uma dor de alma que nem vos conto.
Detesto os bajuladores, os lambe-botas, os que não aparecem para contribuir mas são os primeiros da fila quando se trata de ficar com os louros. Perdoem-me os exibidores, os "olhem para mim que estou aqui", os "não percebo nada desta merda mas vou dizer que sim, que fiz e aconteci, só porque é bonito e o que importa é parecer", perdoem-me, a sério, mas eu NÃO VOS SUPORTO.
É que nem sei lidar com a espécie. Há manual de instruções? Alguma espécie de "this always work"? Só me ocorrem estas opções:
1. responder na mesma moeda e aumentar ainda mais a fasquia do cinismo e da lambe-botice;
2. ir muito directa ao assunto e responder "who the hell cares?!" (seja via oral ou via comentário à foto mega in numa qualquer rede social)
3. mandar o ser para o lugar devido, o da ignorância.
Acredito piamente nesta última.
Aprendam, de uma vez: para fazer o bem não precisam de dizer que o fazem; para ser alguém não precisam de parecer; para ser felizes não precisam de mostrar. Depois admiram-se que eu não leve determinadas pessoas a sério, que não lhes permita aproximarem-se de mim. Pois não. E assim vai continuar.
Há alturas na vida que sabemos que são determinantes e que vão definir aquilo que seremos no mundo e o nosso papel na sociedade. A escolha do curso e da respectiva universidade é, muito provavelmente, a mais importante de todas. Este verão é a vez da minha prima escolher o seu destino no que diz respeito a este assunto e, confesso, nutro por ela e pela situação em que se encontra um certo carinho compreensivo de quem conhece bem aquele turbilhão de sentimentos e angústias.
É muito bonito quando temos uma vocação, quando crescemos na certeza do que queremos fazer e, com orgulho, levamos a mão ao peito quando falamos na profissão que almejamos. Bonito, não é? Mas muito improvável. A verdade é que a maioria dos adolescentes e jovens, mais ou menos promissores (porque nem só de universidades se fazem bons profissionais e, sejamos realistas, nem todos estão vocacionados para isso), não têm noção daquilo que realmente querem fazer no futuro. Ou melhor, há sempre a vontade de ser isto ou aquilo, mas muitas vezes essa vontade é alimentada por um misto de influências dos meios de comunicação e uma vontade de conquistar o mundo. Lembro-me perfeitamente que, por volta dos meus 12 anos, jurava a pés juntos que o meu futuro passava por ser actriz. Aos 15, preferia ser psicóloga criminal, aos 17 já hesitava entre psicologia criminal e criminologia da pura. Só quando tive à minha frente o impresso para preencher com a lista de cursos que queria é que decidi escolher algo relacionado com aquilo que mais gosto de fazer: escrever, produzir conteúdos, comunicar, criar. Escolhi comunicação. Mas foi um impulso do momento, um bocadinho às cegas, apesar de saber que algures, dentro daquela área imensa, estaria aquilo que queria realmente fazer.
Parece-me que o grande problema é o facto de os jovens que terminam o secundário o fazerem sem a mínima noção do que é o lado prático de cada profissão. Sim, sabem que se são de ciências podem ser dentistas, cirurgiões ou químicos, profissões que conhecemos bem e das quais sabemos mais ou menos o que esperar... Mas então e os engenheiros agrónomos, os geólogos, os gestores financeiros ou administrativos? O que é que esta gente faz no dia-a-dia? Em conversa com a minha prima (e que não foi novidade nenhuma porque senti exactamente o mesmo) ela diz-me isto: "é que não sei o que é que se faz em cada profissão, na prática". Não sabes porque ninguém te explica. Porque o sistema escolar continua a insistir que uma série de testes que pedem para seleccionar as coisas que nos imaginamos ou gostamos de fazer, entre as quais estão opções tão variadas como "cantar" ou "tourear um touro" (juro que isto estava no teste psicotécnico, não me esqueço), é suficiente para decidir o nosso destino. Não é. É preciso mostrar o que acontece quando se mete "a mão na massa". Como é um dia de um jornalista, de um geólogo ou de um gestor, falar-lhes do horário de trabalho, das implicações. Explicar-lhes que ser jornalista não é só escrever, ser geólogo não é só fazer escavações e que os gestores não se limitam a fazer contas. Não é fácil, que não é, mas não é impossível. Duas horas por semana inseridas no plano curricular do 12º davam tempo para trazer oradores convidados de diferentes áreas, apresentar casos práticos e, quem sabe, visitar empresas e conhecer o contexto real de trabalho. Uma espécie de Kidzania para recém-adultos. Mais do que isso, fomentava a ambição, o querer conhecer e saber fazer. Talvez essa seja a chave para um país mais produtivo, de trabalhadores mais felizes e cidadãos realizados.
Fui cinco dias para o Algarve mas na realidade só gozei quatro. Porquê? Ora bem, essa é uma história que remonta ali aos anos 90, altura pela qual nasci e, comigo, veio uma bela apetência para ser mordida por insectos dando origem a vistosas borbulhas, inchadas e inflamadas de gosma. Dito por outras palavras e sem grandes rodeios: as putas das melgas adoram-me! Devo ser docinha por dentro (assim como sabemos que sou por fora, upa upa), não sei, mas tenho uma tendência enorme para ser picada por bichos - que nem sei ao certo se são melgas ou que raio são - e o efeito que as picadas têm no meu corpo não é o mais normal. Pois bem, no segundo dia no Algarve decidimos ir a pé de Quarteira a Vilamoura, passamos o dia a passear e a apanhar sol e, chegados ao hotel, reparei que tinha uma pequena picada na bochecha, pouco abaixo do olho direito. Tudo bem. Tranquilo. "É só uma picada e até pode ser que o efeito não seja assim tão catastrófico". Se nesse dia mal se notava, no dia seguinte já tinha o caroço típico da picada de insecto. Tranquilo. No dia a seguir a esse, comecei a sentir um pequeno papo debaixo do olho e já se notava um pequeno inchaço. Mas nada de especial. Tranquilo. Essa noite não foi propriamente maravilhosa e quando acordei de manhã sucede que não conseguia abrir o olho, tal era o tamanho da bola que se formava ali por baixo. Por muito ridículo que pareça, não sei se fiquei mais em pânico por não saber exactamente o que se passava com a minha cara ou por não querer que o meu rapaz me visse naquela figura. Ainda na cama, de cara tapada e meia a soluçar (apesar de jurar por todos os santinhos que não chorei, estava em pânico) tentei prepará-lo: "isto está horrível, não vais querer ver", ao que ele me respondeu "não sejas parva, destapa a cara", obviamente a achar que eu estava a gozar ou a exagerar. Quando finalmente lhe mostrei, a reacção não podia ser mais apaziguadora: "aah, isso está mesmo inchado", completamente boquiaberto. Não estava SÓ inchado, eu tinha a cara deformada, um olho tinha desaparecido e não conseguia sequer pronunciar uma frase em condições porque aquilo prendia os movimentos. E o mais ridículo de tudo é que não me doía nem dava comichão, era só um aborto prostado na cara que parecia pesar mil quilos e que fazia uma impressão do caraças. Obviamente que o meu destino foram duas horas de espera no centro de saúde, um diagnóstico de reacção alérgica a picada de insecto, uma injecção de cortisona, outra de outra coisa qualquer e o resto do dia completamente drogada pela dose de cavalo que levei. Não era bem aquilo que tinha planeado para o último dia de férias, maaas... Tranquilo.
Na última semana estive ausente, mas por um bom motivo. Dei um saltinho até ao Algarve com o namorado para passar aqueles que possivelmente foram os últimos dias de descanso deste verão (a ver vamos). Não tem sido um ano fácil, a tese não me dá descanso e mesmo quando decido parar é difícil desligar do tema. Por isso mesmo, na última segunda-feira rumámos até Quarteira. Tinhamos escolhido o hotel há cerca de um mês, num daqueles portais de descontos, graças ao qual conseguimos fazer a reserva por um preço amigável (digamos, bastante amigável). Foram quatro dias de puro descanso, e só não foram cinco porque um percalço fez com que ficasse o último dia de papo para o ar, em casa, tipo vegetal. Devo ter de ir à bruxa ou, em alternativa, tenho de começar a fazer uma mezinha caseira antes de ir de férias, que isto ultimamente é cada tiro, cada melro: "ai vais de férias, descansar e estender o lombo ao sol? Toma lá, maleita para ti!", é qualquer coisa deste género. Mas, por agora, concentremo-nos nas coisas boas.
Pelos lados da marina de Vilamoura é disto que se encontra. Apesar de ser "apenas" o transporte de um "qualquer" turista, assemelhava-se mais a um artigo de museu, tal era a quantidade de pessoas que se aproximava para tirar fotografias ou simplesmente para olhar mais de perto. É isto que é a outra vida, não é?
Ainda deu para um dia no Aquashow. Apesar de ser fã de uns bons rebolanços aquáticos, chateia-me que o espaço esteja cada vez mais comercializado, principalmente quando isso envolve a vida de seres vivos. Em todas as esquinas havia promotores com araras, águias e cobras ao ombro, que insistentemente perseguiam as pessoas para tirar fotografias com os animais. Fui abordada mais de cinco vezes. Quando me perguntaram "queres experimentar?" pensei que estivessem a oferecer aperitivos, mas não, estavam mesmo a sugerir que metesse uma águia ao ombro, como se por magia, ao final do dia me desse uma vontade súbita de dar 10€ pela fotografia com o animal. Podia referir imensa coisa sobre o parque, mas só me apetece mesmo dizer isto.
Uma das muitas contribuições para me tornar um pequeno pote. E como era bom! Sim, aquele chocolate por cima do waffle mais próximo (que por acaso era o meu) é mesmo Nutella. Dos deuses!
O hotel QuarteiraSol foi uma surpresa. Não estávamos à espera de grandes luxos, visto que, como já disse, o preço ficou bastante em conta, e a verdade é que quando as expectativas estão baixas as surpresas sabem sempre melhor. O hotel é moderno, tem um espaço comum enorme e com imensos sofás onde é possível ver televisão ou navegar na internet, o nosso quarto era pequenino mas super moderno e limpo diariamente (ficámos no último andar, que para além de ser bastante sossegado, tinha uma vista liiiinda para o mar e um terraço gigante). Acho que o único contra é mesmo o facto de não disponibilizarem wifi nos quartos.
Bonito, bonito é sairmos de casa de manhã cedinho, assim meio despreocupadas, desgrenhadas e com a primeira coisa que veio à mão enfiada no corpinho porque ah e tal, vamos só ali ao dentista e voltamos já para casa. Mais bonito ainda é, tendo este magnífico cenário por base, chegarmos à consulta e o enfermeiro auxiliar ser um rapazinho bem parecido (uma pessoa já nem ao dentista pode ir descontraída!) que nos vai limpando a boca suavemente com um papel, à medida que a dentista vai fazendo o seu trabalho e que no fim, depois de bochecharmos ainda nos diz, assim como se fosse a coisa mais natural do mundo: "limpa melhor os cantos da boca para tirares a pasta". "Err, obrigada".
E quando se torna cruel conviver com os nossos amores por ser duro o confronto daquilo em que se tornaram com aquilo que idealizámos? Sempre esperei que entendessem aquilo que o silêncio não me deixa dizer. O silêncio é um peso demasiado forte e nunca me deu tréguas. As palavras nunca saem, os actos não acontecem. Deambular pela vida esperando que ela se recomponha sozinha, que encontre o equilíbrio na paz que está para vir. Que a borboleta encontre o seu destino, que as pedras da calçadas se alinhem e recomponham e as árvores aprendam a florescer no inverno. Mas colocar o destino da vida nas mãos do próprio destino é desistir do sentido da vida. E as palavras e os actos que nunca existiram haviam de ter feito tanta diferença no momento certo... O momento certo. Sabê-lo é o mais díficil. E o mais duro. Pode ser a epígrafe de uma nova história ou o início do fim, o virar da página. Mas é preciso sabê-lo, descobri-lo.
Tempo de pedir desculpas por dentro por tudo aquilo que não conseguimos ser por fora. Limpar a alma. Começar de novo. Procurar os momentos certos da vida. Persegui-los. Até que a alma doado cansaço. Mas nada ficará por dizer, por fazer.
(num registo muito diferente do habitual, às vezes preciso de escrever o que sinto da forma mais livre. Na hora, sem pensar muito. É a minha escrita mais frenética que decido, agora, começar também a partilhar)
Eu: Mas não vês coisas bonitas no mundo que gostasses de fotografar e partilhar?
Ele: A única coisa linda que vejo no mundo não a quero partilhar com mais ninguém.
Fiquei a olhar para ele (e acho que de boca aberta) por uma fracção de segundos. "Oi? Acabaste mesmo de dizer aquilo que eu estou a pensar?", pensei para mim. Depois assimilei e fiquei de coração cheio, assim a tentar absorver todos os pedacinhos de ar, som, cheiro e toda a matéria orgânica daquele momento que o pudesse imortalizar para sempre. Mas porquê? Pois. O meu namorado é a melhor pessoa do mundo, a mais disponível para ajudar, a mais educada, a mais amiga, mas tem assim uma pequena dificuldadezinha que me dá cabo dos nervos: é difícil sacar-lhe um sentimento. É coisa que acontece assim, uma vez a cada três meses. Sei, por conhecimento de experiência alheia à minha, que não estou sozinha nesta cruzada, é mal comum à espécie. Mas pronto, uma mulher gosta sempre de ouvir palavras que lhe aqueçam o coração e estes pequenos calhaus chamados homens têm a sensibilidade de um homem das cavernas, pouco evoluiram nesse sentido, e requerem uma intensiva domesticação. O meu já está a aprender, devagarinho vamos lá!
Pequenas coisas boas que fazem o meu dia. Oxalá fossem todos assim!
1. Dias solarengos e com temperaturas a rondar os 20º graus. Ninguém - repito, ninguém - consegue imaginar o poder que isto tem no meu estado de espírito!
2. Motivações divinas para sair da cama de manhã e ir estudar all day long. Repor horários, chegar a esta hora do dia e sentir aquele cansaço saudável.
3. Spots de estudo maravilhosos, iluminados, com paisagens inspiradoras e com prateleiras e prateleiras de livros por explorar!
4. Sucessos profissionais do rapaz do meu coração. Well done, boy!
Eu disse que eram pequenas coisas, mas para um só dia enche-me o coração e as medidas!
O carnaval é uma espécie de guerra fria: uma pessoa sai à rua, sabe que está tudo bem mas tem sempre aquele pânico interior na certeza de que, a qualquer momento, vai levar com uma bomba em cima. Hoje tive de ir à faculdade e tive o azar de sair de casa à hora a que os putos saem da escola. Saio do prédio. Sente-se a tensão no ar. Olho à minha volta, não há sinais de perigo, é seguro avançar. Além dos vários miúdos que por ali andavam àquela hora, estavam junto à paragem do autocarro dois rapazes, cada um com o respectivo balãozinho de água. Cruzámos olhares. Mantive a postura. Não dei parte fraca. Entrei para debaixo do cubiculozinho da paragem. Eles ficaram do outro lado, fora da paragem, atrás do placar publicitário. Espreitaram uma vez. Espreitaram outra. "Pronto, já foste, vais ficar encharcada e vais ter de voltar a casa trocar de roupa". Alternativas? "Faço-me de forte e mando um 'ouve lá, não tenho a tua idade!' ou faço cara de carneirinho inocente?". Fiz cara de carneirinho inocente. O carneirinho mais inocente da Terra. Resultou. O autocarro chegou e sai ilesa.